Poemas
Dentro de um balão
Queria poder ser mais,
dar mais.
Mas por dentro, confusão.
Esquecimento de mim.
Por dentro, falta.
Ar rarefeito.
Tento encontrar pouso firme,
mas os pés não alcançam o chão.
Entre tantas vontades,
pensamentos vem e vão
e já não sei onde estou,
se estou...
Perdi.
Depois, solitária,
o ar comprime.
Espreme e espreme o peito...
Já não caibo em mim!
Expiro o ar pela janela,
enquanto o olhar busca em vão...
busca o que não foi.
Busca pelo balão.
Aquele que já passou.
Quem disse que era para ter sentido?
Não querer nada seria possível?
Nada além do que se possa sentir no momento,
sem a ilusão do sucesso,
nem do êxito?
A jornada é interior, pressinto.
Psicológica ou espiritual,
o conceito que cada um preferir.
É isso de dentro,
da compreensão de si no mundo,
seja lá o que o mundo queira dizer.
Seriam as necessidades materiais o obstáculo que ofusca a busca?
O conforto apenas bastaria, então, sem luxo.
Trabalho prático para a troca.
Sem a pretensão de ser qualquer coisa além de outra pessoa.
Pertencimento e não pertencimento
A dificuldade em delimitar
me faz delimitadora.
A dificuldade em perceber o detalhe
me faz nele parar.
Não sei por que me interesso
pelo o que me interesso,
apenas me interesso.
Vou sem saber por que fui.
Transformo a vontade de alguma coisa
em algo que não sei o que é.
Me falta a estrutura que busco,
mas quando a tangencio
o sentido já passou...
O gosto da inércia
O gosto da inércia aguça
o querer que a boca engole,
o corpo dormente em tédio,
o âmago de sentir disforme.
Quer matar o monstro da ânsia
nutrir a alma com fome.
Pois a vontade adormecida e lerda,
vive, mesmo sem parecer, fria de aparência
mas quente na urgência disforme.
O que pode ser a poesia?
“Arte livre em sua contextura” do desejo de Gilka Machado?
Deve a estrofe ser “o diagnóstico da alma”?
E se a revelação for uma “nau encalhada nas fráguas”?
Em água “morna e estagnada”?
O gosto pode ser de inércia
feito mulher submetida
é “agua inerte” na vida
quando a vontade é de voar.
Aspas retiradas dos poemas de Gilka Machado (1893-1980)
Madrugada
Sempre antes de dormir
não encontro o que busco.
“Mas será que há algo pare era encontrado?”, me pergunto no silêncio.
Adormecer é como morrer um pouco.
Postergo até os últimos minutos,
na esperança de uma grande ideia, sentimento ou pensamento.
Se, mesmo depois de insistir, vou dormir com a sensação de vácuo,
a insônia se faz no vazio.
Não no peso.
Pois minhas manhãs não existem.
As tardes são como grandes containers sem porta.
E as noites, uma salinha de lucidez,
a consciência do que não foi.
É no campo da prorrogação que as tentativas se concentram.
Um espaço inabitado e sem horas,
que me prende para a caça de sentido.
Como se tudo ali pudesse acontecer.